Scutigerella immaculata, uma nova praga no Brasil?

Scutigerella immaculata

Postagem circula no WhatsApp com fotos e vídeo de praga que devasta lavouras em Paraíso do Tocantins, TO.

Uma postagem encaminhada em diversos grupos de agricultores do WhatsApp está causando apreensão em produtores de todo o país (pelo menos nos que possuem a ferramenta). Algumas fotos e um vídeo mostrando o ataque de uma pequena “centopeia” transparente que se move rapidamente no solo leva junto o nome do suspeito: seria o sínfilo (Symphyla), mais especificamente o Scutigerella immaculata. O nome vem no texto que acompanha a postagem, pois não existe nas fotos ou no áudio do vídeo qualquer informação sobre o ocorrido.

Vídeo que acompanha a postagem no WhatsApp

Scutigerella immaculata

O sínfilo não é um total desconhecido dos brasileiros e existem casos registrados na literatura em diversos países. Na França, foi forte motivo de preocupação em 2010, com ataques devastadores a lavouras de milho, especialmente após a proibição do uso de alguns produtos no tratamento de sementes (Imidacloprid e Fipronil), além do banimento dos organofosforados.

 

Ampliação de uma das imagens divulgadas no WhatsApp

 

A praga está muito presente em solos cultivados cuja textura permite o aparecimento de rachaduras, microcavidades e galerias de minhocas favoráveis ​​ao seu movimento. Assim, a Scutigerella immaculata faz migrações verticais entre a superfície e uma profundidade do solo que pode chegar até 1 metro. O miriápode se alimenta de algas, cogumelos, musgo e também de sementes e raízes, daí o resultado danoso em vastas áreas das lavouras atacadas.

Dica de leitura: BIOLOGIA E CONTROLE DE ARTRÓPODES DE IMPORTÂNCIA FITOSSANITÁRIA
(DIPLOPODA, SYMPHYLA, ISOPODA), POUCO CONHECIDOS NO BRASIL. – Divulgação Técnica do Centro de Ciências Agro-ambientais e de Alimentos, Universidade do Oeste de Santa Catarina, por F.R.M. Garcia e J.V. Campos.

Symphyla

Existem apenas 160 espécies de sínfílos descritas, habitando o solo ou o folhiço. Estes animais são artrópodes esbranquiçados e delgados, encontrados na maior parte do mundo (SCHELLER, 1982). O comprimento varia entre 2 a 10 mm e lembram centopéias superficialmente. Possuem 12 segmentos no tronco, onde encontram-se as pernas. O último (13º) segmento apresenta um par de fiandeiras ou cercos e um par de longos pêlos sensoriais, denominados tricobótrios. O tronco termina em um pequeno telson oval (BORROR & DELONG, 1969; BARNES, 1984).

Um epistômio e um labro bem desenvolvidos se projetam em frente das antenas localizadas lateralmente. Cada mandíbula possui um lobo gnatal denteado, independentemente móvel e encontram-se debaixo do epistômio e do labro (BARNES, 1984).

A maioria das espécies desses animais podem correr velozmente e podem girar, dobrar e enrolar o corpo quando rastejam em fendas dentro do húmus, devido a estrutura do tronco, especialmente a presença de placas tergais adicionais que aumentam a flexibilidade dorsoventral. Tal habilidade é provavelmente uma adaptação para escapar de predadores (BARNES, 1984; GARCIA, 2002).

O sistema respiratório é traqueal. Há um único par de espiráculos que se abre lateralmente à cabeça. Debaixo da base de cada perna encontra-se um saco coxal eversível e um pequeno apêndice denominado de estilo. A função dos sacos coxais é absorver umidade, e a função do estilo é provavelmente sensorial.

Os olhos são inexistentes nos sínfilos (BARNES, 1984). As aberturas genitais encontram-se dispostas lateralmente ao quarto segmento do tronco da região ventral, como ocorre nos diplópodes e paurópodes. O comportamento de Scutigerella (Scutigerellidae) é conhecido. O macho deposita de 150 a 450 espermatóforos, cada um na extremidade de um pedúnculo. Ao encontrar o espermatóforo a fêmea ingere-o armazenando-os em bolsas bucais. Depois ela remove os ovos, com a boca, do único gonóporo, fixaos ao substrato e então manipula-os com a boca. No último processo, a fêmea unta cada ovo com espermatozóides e o fecunda. Os ovos são postos em grupos de 8 a 12 e são fixados às paredes de fendas ou em musgos e liquens.

A partenogênese é comum. Não se conhece o papel dos órgãos tecedores na reprodução. O desenvolvimento é anamórfico; ao eclodir o jovem tem seis ou sete pernas. S. immaculata Newport, 1845 vive até 4 anos e sofre ecdises durante toda a vida (BARNES, 1984). No Brasil LOUREIRO & GALVÃO (1970) observaram pela primeira vez os sínfilos Hanseniella sp. (Scutigerellidae ) como pragas de culturas, atacando coleóptilos e radículas de arroz em Minas Gerais.

 

Fica sempre a dica: em caso de incidência destas pragas, consulte seu agrônomo de confiança, diretamente ou através da sua cooperativa ou associação.

Se você é o autor das imagens e vídeo que estão circulando no WhatsApp ou sabe da incidência da Scutigerella immaculata na sua região, entre em contato pelo e-mail [email protected] que divulgaremos a sua história.

 

Veja também (em inglês)

Garden Symphylan as a Pest of Field Crops .

A Chaos of Delight.

 

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