Várias cooperativas agrícolas brasileiras já atuam no provimento de acesso a internet no interior. Reunidas, poderiam fazer frente no mercado de telecom no país
De tempos em tempos, a telefonia móvel ganha atualizações tecnológicas desenvolvidas pelos principais fabricantes do mercado internacional de telecomunicações, amplamente discutidas por organizações que controlam as normas destes sistemas. Do lado governamental, os países gerenciam a forma como as frequências são usadas pelas operadoras quando adotam estas novas tecnologias.
Na telefonia móvel celular, já passamos da época do telefone que era usado apenas para falar e o brasileiro viu as redes passarem de analógicas para digitais. Posteriormente, novas tecnologias foram sendo disponibilizadas sempre com algum mínimo avanço e, com elas, a sopa de letrinhas e números: CDMA, GSM, 2,5G, 3G, 4G e 4,5G, para citar padrões e marcas para os serviços prestados. Agora o mundo inteiro está esperando o 5G, padrão que oferece a possibilidade da transmissão de dados em velocidades até 50x mais rápidas que a do 4G em alguns casos.
Se na cidade as pessoas possuem em alguns pontos uma grande oferta de provedores de acesso (cabo, ADSL, Wireless, celular e fibra), no campo a coisa é bem mais complicada para quem quer acessar a internet ou simplesmente falar ao celular. Até a recente popularização dos serviços de internet por satélite nas zonas rurais, em alguns casos as famílias não possuiam acesso aos prestadores de serviço, mesmo em condições para pagar mensalidades superiores em relação aos serviços disponíveis no meio urbano.
O pioneirismo das cooperativas
No início dos anos 2000, muitas empresas de pequeno porte e cooperativas foram responsáveis por iniciativas para levar internet aos clientes e ou cooperados, sozinhas ou formando parcerias. Muitos provedores nasceram das necessidades das próprias cooperativas na hora de conectar pontos remotos das unidades de recebimento de grãos em locais sem qualquer serviço disponível na área de telecomunicações. Ergueram torres, compraram computadores, equipamentos de rádio e ligações com a Embratel, adquirindo internet no “atacado” e distribuindo entre as filiais e cooperados.
A qualidade do 5G (em velocidade e latência) trará novas possibilidades para o campo, do uso de internet padrão em celulares e computadores até a capacidade de controle e monitoramento de máquinas e animais, em tempo real. Sistemas de irrigação, rastreabilidade, integração com máquinas agrícolas e tantos outros seriam beneficiados com o 5G para, de fato, aproveitarmos tudo o que pode ser oferecido pelas técnicas abraçadas pela chamada agricultura de precisão e Internet das Coisas.
Se a tecnologia é boa, o atendimento das grandes operadoras de telefonia na zona rural é tradicionalmente ruim, motivo de sonho para quem não tem e em alguns casos raiva para quem já conseguiu adquirir e acessa a internet de forma lenta ou precisa subir em uma árvore para falar com alguém ao celular.
A prestação de serviços de telecomunicações para o homem do campo através de cooperativa quebra paradigmas tradicionais do setor, oferecendo contato real do fornecedor com o cliente, tornando o serviço apenas mais um item a ser descontado na conta do cooperado, que também é dono do provedor.
A autonomia tecnológica para cooperativas e economias de pequenas cidades é outro fator positivo, com novas empresas podendo operar em negócios que sempre foram impossibilitados pela falta de recursos.
Estas cooperativas (ou esta “cooperativa de cooperativas”) habilitada para operar o serviço de 5G poderia pagar os arremates dos leilões de frequências ao governo até mesmo com produtos alimentícios para diversos programas já existentes, com prazo e carência. Seria a efetividade do leilão sem caráter arrecadatório, focado no desenvolvimento. O sistema de intercooperação já é realidade no Brasil no setor alimentício, como no caso da Unium.
Claro que esta ideia enfrenta barreiras legais, técnicas e econômicas, mas tem tudo para dar certo e o primeiro passo é a conversa. As cooperativas que já lidam com internet, o governo federal através dos ministérios correlatos e as comunidades envolvidas deveriam pensar no assunto, já que as tecnologias evoluem, mas a disposição das operadoras em atender mercados remotos – especialmente as zonas rurais – nem sempre evolui na mesma proporção.