Carnaval 2017 – Escola de Samba do Rio Terá ala Contra “Agricultores e seus Venenos”

Carnaval 2017

O tema principal da escola de samba no Carnaval 2017 no Rio será o Xingu, onde o homem branco “caraíba” é retratado como ambicioso e raiz de todo mal

Exceto pela menção honrosa aos irmãos Villas-Boas, não sobra muito carinho para o homem branco no samba-enredo da escola de samba carioca Imperatriz Leopoldinense. Usando a história dos índios do Xingu como fundo, a escola levará para a avenida uma ala inteira de pessoas fantasiadas de agricultores e seus venenos.

No mercado de fantasias, cada uma pode custar cerca de R$2000,00. Não sabemos se existe restrição para a compra destas fantasias para não-índios, ou pessoas que vivam, direta ou indiretamente, do agronegócio, aquele setor que teima em significar uma enorme parcela de tudo o que é produzido no país.

O agronegócio brasileiro já colocou dinheiro no carnaval carioca. Em 2011, com o apoio da CNA, a Escola Mocidade Independente de Padre Miguel retratou positivamente o setor com o samba “Parábola dos Divinos Semeadores”. Até biodiesel usaram nos carros alegóricos.

No geral, a história toda mistura retórica de índios inocentes, puros e “invadidos” pelo homem branco sem escrúpulos. Na “sinopse” do desfile, disponível neste site, podemos observar este parágrafo, sustentando o enredo:

Se perderam o seu Paraíso, os caraíbas partiram para conquistar o nosso, pequeno guerreiro – talvez, por vingança de Anhangá, o feiticeiro. Impulsionadas pelos ventos da cobiça, as naus aportaram em nossas praias, trazendo ensinamentos que os invasores nunca ousaram praticar. Nada mais seria como antes. Em vez de nos tratar como semelhantes, nos chamaram de selvagens e tentaram nos escravizar. Vinham do Velho Mundo e representavam a civilização. Chegaram arrogantes, se apoderando de nossas terras e riquezas. Levaram ouro, prata e diamantes, e uma madeira que tingia com sangue, lembranças de tantas belezas. Em troca, traziam espelhos, doenças e destruição. Sua missão era usar a cruz de um Deus que morava no céu, fincando marcos aqui e ali; usando palavras sagradas, deixaram nossa gente esmagada, como no abraço lento e mortal da sucuri.

Vale lembrar que o primeiro contato com os índios do Xingu ocorreu em 1887, quando Karl von den Stein entrou na região com uma expedição alemã.

Texto publicado em 2 de janeiro de 2017, na versão original do Blog do Farmfor.

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